Dentro Da Baleia

Eu queria ter na vida, simplesmente, um lugar de mato verde, pra plantar e pra colher… Ter uma casinha branca de varanda, um quintal e uma janela, para ver o sol nascer. Parafraseando Gilson, de sua canção Casinha Branca, afirmo, com todas as letras que vão aí em cima: pouca coisa me basta. A felicidade que o mundo quer é feita de plástico.

Cada um tem seu mistério, seu sofrer, sua ilusão. Mais um pedaço da música do meu amigo Gilson, digo “amigo” porque quando ouço o cara cantando Casinha Branca, sinto como se eu mesmo o estivesse fazendo. Enquanto escrevo esse texto, choro igual a uma criança, por causa dessa bendita revelação feita pelo abençoado compositor. Como pode uma coisa tão simples mexer com a gente? Lembro-me, ainda criança, bem pequeno, catarro escorrendo no nariz e cantando junto, quando a música tocava no rádio. Longa história.

“A que se cuidar do broto, pra que a vida nos dê flor, flor e fruto” – nos brindou Milton Nascimento, em Coração de Estudante. Música que marcou toda uma geração e, ainda hoje, derrete qualquer um, principalmente os mais durões; esses que são apenas crianças peladas, escondidas atrás do próprio orgulho, morrendo de vontade de se divertir; mas alguém, em algum momento, lhes tirou o brilho da vida. A que se cuidar do broto, pois é frágil e poderá trazer algum fruto; e sem ele nada restará além de galhos secos e espinhos.

“E ele diz que mora dentro da baleia por vontade própria” – trecho de Mestre Jonas, deliciosa canção de Sá, Rodrix e Guarabyra; também visitada pelo meu amigo Marcos Martino e a banda República dos Anjos. “Quando o tempo é mal a tempestade fica de fora…”, continua, “A baleia é mais segura que um grande navio”. O mundo aqui fora é turbulento, cheio de paradoxos e inconstitucionalidades, ninguém respeita a lei, pois somos “fora” dela por essência.

“E ele diz que está comprometido, e ele diz que assinou o papel, que vai mantê-lo preso na baleia até o fim da vida”. Mestre Jonas escolheu um novo mundo (o ventre do cetáceo) que também está no “mundo” (o oceano), mas que não se confunde com ele e nem se abala por sua intervenção, pelo contrário, o grande peixe vale-se, a qualquer instante, não importa a hora ou o humor do clima, seja a serenidade ou a volúpia das águas, sua jornada nunca muda, é sempre a mesma.

“Renova-se a esperança, nova aurora a cada dia” – obrigado Milton. Minha Casinha Branca, ainda não a tenho fisicamente; mas ela talvez já “more” dentro de mim mesmo. Possível é que eu seja a baleia levando o Mestre Jonas, emaranhado em meus sonhos, por onde quer que o mar revolto me remeta, enfrentando ondas e arpões, não permitindo que ninguém me roube a preciosa gordura.

“Quero falar de uma coisa! Adivinha onde ela anda? Deve estar dentro do peito… Pode estar aqui do lado, bem mais perto que pensamos…” – A felicidade é um trem de mineiro, que mostra a cara, bem de leve, soltando a sua fumaça na curva da montanha, aparecendo um vagão de cada vez, cheio de surpresas. E, já que em Minas “trem” pode ser qualquer coisa, a felicidade pode estar em qualquer lugar, em qualquer hora, só nunca deixa de sempre nos surpreender, bem mais perto que pensamos. “Ô trem bão”!

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